2 de dezembro de 2007
OS SETE PECADOS DE... Novembro 2007
AVAREZA. As descobertas nas lojas de DVD em segunda mão continuam. Numa tarde cinzenta, descubro por entre muitas obras repetidas, o clássico AS IRMÃS DE GION, de Kenji Mizoguchi por meros cinco euros. Trata-se da história de duas orientais que decidem encontrar «ricos patronos» para as suportarem, livrando-se uma delas de um homem que a faz perder tempo e dinheiro. Curioso como sou pelo cinema oriental, senti que voltei mais uma vez a contornar o sistema: este clássico vale pelo menos o triplo do valor por que o comprei!
IRA. Vai inteirinha para a composição de Jodie Foster em A ESTRANHA EM MIM (ainda há traduções livres em português que funcionam, esta é uma delas!). Dirigida por Neil Jordan, a actriz convence na pele da mulher atormentada pela morte abrupta do noivo que se transforma num ser diferente e irracionalmente vingativo. O trabalho de Foster é soberbo, mas a realização de Neil Jordan também é merecedora de todos os elogios. Aqui, a vingança serve-se fria, principalmente quando o sangue gela.
SOBERBA. Mês de Novembro rima cada vez mais com Natal e começa a ser particularmente irritante as estreias obrigatórias dos filmes para toda a família a pensar na época. Como já não há «O Senhor dos Anéis» e «Harry Potter» só para o ano, os produtores tratam de resolver a questão e colocam em exibição um par de filmes que podem ter os seus méritos, mas que são colados ao rótulo de «filmes do fantástico» para justificar o aparato de meios e efeitos especiais. É o caso de BEOWULF ou a ESTRELA DOURADA, obras que ainda não vi mas que já considero o «marketing» de duvidosa orginalidade.
GULA. A reposição de ERASERHEAD no cinema (ainda que na mais discreta sala da capital...) deixa um bom prenúncio: a arte de reviver clássicos ou descobri-los pela primeira vez tem sido um esforço que o produtor Paulo Branco tem conduzido com mérito. Graças a ele, obras de Antonioni, Tati ou Visconti puderam ser recordadas na sala escura. Agora foi a vez de Lynch, mesmo que a experiência seja um caótico e bizarro encontro com a mente abstracta do cineasta. Mesmo assim, queremos mais!
PREGUIÇA. Efeito secundário de se ter adquirido uma televisão de grandes dimensões: não querer saltar do sofá e procurar ver todos os filmes da videoteca, comprados há meses, mais ainda sem tempo de os disfrutar. O LCD é entretenimento puro... e torna-nos mais caseiros.
LUXÚRIA. O triângulo amoroso entre Cate Blanchett, Clive Owen e Abbie Cornish são o amor impossível do mês, apesar da oportunidade desperdiçada de se criar um genuíno retrato sentimental. ELIZABETH-A IDADE DE OURO é um filme histórico sumptuoso, com bons actores, mas falta algo fundamental no cinema: a emoção.
INVEJA. As estreias estão a multiplicar-se todas as semanas. Começa a ser bastante frequente a semana em que chegam aos ecrãs seis ou sete filmes novos. Algo que reflecte maior oferta, mas que dificulta quem gosta de ir ao cinema uma/duas vezes por semana e, mesmo assim, ficar a par do que de bom se vai fazendo. Quem o consegue são os críticos, pagos para verem diariamente o que os outros se têm de desdobrar (e roubar horas ao sono) para fazer. Se a inveja matasse...
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