LUXÚRIA. «A diferença entre as minhas personagens e as de um filme de Hollywood? As minhas são reais.» SPIKE LEE
Um dos méritos de «A Última Hora», a obra anterior de Spike Lee a este filme que revi recentemente, era o de permitir, pela primeira vez, olhar de frente para as feridas profundas que os atentados terroristas do 11 de Setembro de 2001 deixaram na auto-estima dos americanos.
Nesse filme, um dos mais ovacionados numa carreira irregular, Lee apostou na contenção dramática e colocou a vivência intimista de um traficante à frente do seu gosto pela análise social agressiva – excepto no já célebre monólogo que a personagem de Edward Norton expressa frente ao espelho.
Dois anos depois, o realizador de «Do the Right Thing» e «Malcom X» superou o luto, regressou à comédia e colocou a sátira no seu devido lugar, isto é, em quase todas as cenas.
ELA ODEIA-ME traz de volta o gosto pela controvérsia – que se verificou inclusivamente na aceitação dividida dos críticos – e muitas ideias sobre as fragilidades emergentes num modelo social cosmopolita.
É um filme partido em dois que começa por apresentar a personagem Jack Armstrong (Anthony Mackie) como executivo de um próspera empresa, despedido ao recusar ficar calado por ter assistido a práticas desprovidas de ética.
Pouco tempo depois, a acção deixa de se assumir como uma análise estilizada sobre corrupção corporativa e muda radicalmente de coordenadas, voltando a colocar Jack no meio de uma intrincada trama. Um reflexo dos tempos modernos: a sua ex-namorada, Fatima (Kerry Washington), agora com uma relação duradoura com outra mulher, pede-lhe para ser o pai biológico dos filhos que ela e a namorada pretendem vir a ter sem recurso à inseminação artificial.
Quando menos espera, Jack torna-se numa espécie de gigolo utilitário para lésbicas bem sucedidas que querem um dador de esperma saudável a troco de dez mil dólares. Este episódio torna ELA ODEIA-ME num filme caricatural sobre novos laços familiares, ainda que a premissa original de Spike Lee não seja explorada com muito equilíbrio – a evolução das personagens «encaixadas» de John Turturro (numa imitação desnecessária de Marlon Brando em «O Padrinho») e de Monica Bellucci são a prova disso mesmo.
No final, mais do que comédia sexual de costumes, o que se verifica em ELA ODEIA-ME é que a veia satírica de Spike Lee não abrandou de tom. Está é mais sofisticada e… concentrada do que nunca. Em perto de duas horas e meia, tecem-se juízos sobre concorrência empresarial, interesses corporativos, xenofobia, homossexualidade, prostituição, novas famílias, justiça e até há analogias forçadas ao caso político de «Watergate».
Para compensar alguma falta de gestão dramática suportada por óptimos diálogos, o filme tem para oferecer uma realização segura, com especial relevo para a fotografia de Matthew Libatique.
A edição digital de ELA ODEIA-ME apresenta a obra com óptima qualidade de imagem e som, embora seja muito parca em matéria de extras. Além do trailer estar ausente, o DVD inclui apenas cenas inéditas que pouco acrescentam à história e outras versões de alguns planos incluídos na montagem final.
Nesse filme, um dos mais ovacionados numa carreira irregular, Lee apostou na contenção dramática e colocou a vivência intimista de um traficante à frente do seu gosto pela análise social agressiva – excepto no já célebre monólogo que a personagem de Edward Norton expressa frente ao espelho.
Dois anos depois, o realizador de «Do the Right Thing» e «Malcom X» superou o luto, regressou à comédia e colocou a sátira no seu devido lugar, isto é, em quase todas as cenas.
ELA ODEIA-ME traz de volta o gosto pela controvérsia – que se verificou inclusivamente na aceitação dividida dos críticos – e muitas ideias sobre as fragilidades emergentes num modelo social cosmopolita.
É um filme partido em dois que começa por apresentar a personagem Jack Armstrong (Anthony Mackie) como executivo de um próspera empresa, despedido ao recusar ficar calado por ter assistido a práticas desprovidas de ética.
Pouco tempo depois, a acção deixa de se assumir como uma análise estilizada sobre corrupção corporativa e muda radicalmente de coordenadas, voltando a colocar Jack no meio de uma intrincada trama. Um reflexo dos tempos modernos: a sua ex-namorada, Fatima (Kerry Washington), agora com uma relação duradoura com outra mulher, pede-lhe para ser o pai biológico dos filhos que ela e a namorada pretendem vir a ter sem recurso à inseminação artificial.
Quando menos espera, Jack torna-se numa espécie de gigolo utilitário para lésbicas bem sucedidas que querem um dador de esperma saudável a troco de dez mil dólares. Este episódio torna ELA ODEIA-ME num filme caricatural sobre novos laços familiares, ainda que a premissa original de Spike Lee não seja explorada com muito equilíbrio – a evolução das personagens «encaixadas» de John Turturro (numa imitação desnecessária de Marlon Brando em «O Padrinho») e de Monica Bellucci são a prova disso mesmo.
No final, mais do que comédia sexual de costumes, o que se verifica em ELA ODEIA-ME é que a veia satírica de Spike Lee não abrandou de tom. Está é mais sofisticada e… concentrada do que nunca. Em perto de duas horas e meia, tecem-se juízos sobre concorrência empresarial, interesses corporativos, xenofobia, homossexualidade, prostituição, novas famílias, justiça e até há analogias forçadas ao caso político de «Watergate».
Para compensar alguma falta de gestão dramática suportada por óptimos diálogos, o filme tem para oferecer uma realização segura, com especial relevo para a fotografia de Matthew Libatique.
A edição digital de ELA ODEIA-ME apresenta a obra com óptima qualidade de imagem e som, embora seja muito parca em matéria de extras. Além do trailer estar ausente, o DVD inclui apenas cenas inéditas que pouco acrescentam à história e outras versões de alguns planos incluídos na montagem final.
Sem comentários:
Enviar um comentário