28 de agosto de 2006

Cinema português "falha" na TV

Com excepção dos clássicos dos anos 40 e 50, o cinema português tem muita dificuldade não só em passar nas salas de cinema como em integrar-se nas grelhas das televisões generalistas. Há alguns anos, a SIC revelou vontade em inverter esta tendência, seja na produção de uma série de telefilmes com qualidade e arrojo acima da média para um mercado estagnado, ou no apoio a obras com potencial mediático, como o recente O Crime do Padre Amaro (que, apesar de todas as fragilidades levou às salas cerca de 400 mil pessoas a verem uma produção nacional). Na verdade, e com excepção geralmente da 2: (obrigações de um suposto serviço público?), longa-metragem em português passa sempre a horas tardias, bem perto das televendas. E isso... é quando passa, dado que a TVI, por exemplo, ignora por completo este nicho. Recentemente, a RTP1 ousou passar em horário nobre filmes de temáticas mais amplas - casos de Capitães de Abril, Fátima ou O Delfim -, mas a programação de hoje do primeiro canal é sintomática desta tendência de que não interessa a ninguém, à excepção das pessoas com insónias e olheiras carregadas, verem um filme português. Neste caso, A Falha, de José Mário Grilo, passa às 01.00. Tudo bem que o filme é uma obra menor da carreira do cineasta e professor académico, bastante desequilibrada até, mas não deixa de ser, por exemplo, uma interessante reunião de actores de prestígio, que personificam o novo cinema português. Mas quem é que quer saber disso? A maior parte deles até se apresentam durante longos meses em personagens caricaturais na rotina elementar das telenovelas!

Pecado do Dia: Ira

O que terá passado pela vontade de Mário Grilo - um dos mais interessantes teóricos do cinema vivos - em colocar uma série de personagens fechadas numa caverna forçada é um mistério (talvez houvesse uma tentativa de actualizar a metáfora de Platão, mas que foi completamente desdenhada). O que é certo é que, em A Falha, as personagens andam à deriva. Trata-se de um grupo de oito velhos amigos de escola que se reúnem muitos anos mais tarde e percebem que esse período lhes moldou a personalidade e existem uma série de assuntos por resolver. Na segunda metade do filme, há uma ruptura súbita, porque os protagonistas ficam enclausurados num acidente numa pedreira e o descalabro emocional avança sem avisar. É um jogo de ira, de violação psicológica desconexa, que desequilibra uma obra que nunca se consegue impor em matéria dramática. Resta um bom espectro de personagens e actores - Alexandra Lencastre, Rita Blanco, Rogério Samora, Adriano Luz ou Teresa Roby (no seu último papel em cinema) Mas não é assim que o cinema português se consegue aproximar do público... **

2 comentários:

emot disse...

Existe uma máxima que ouvi recentemente num filme do excelente Richard Linklater protagonizado pelo também excelente e peculiar Jack Black que talvez faça sentido ao filme em questão, A Falha:
"Those who can't do, teach" - Escola de Rock.

Não digo que seja esse o caso, talvez, quem sabe...

Não vi o filme, mas também não fiquei com curiosidade.

Mia disse...

Se a única "falha" do Grilo fosse essa.... :p