
31 de agosto de 2007
Férias para longe daqui

30 de agosto de 2007
Prado Coelho vai lembrar-me Woody Allen

28 de agosto de 2007
OS MEUS POSTERS: Queres Ser John Malkovich?
26 de agosto de 2007
CINEFILIA: Os pinguins estão na moda





- DIA DE SURF: Esta animação perde em comparação com «Happy Feet» mas não por muito. Em jeito de falso documentário, o filme segue os passos de Cody, um pinguim que dá nas vistas com uma prancha. Divertido q.b.
- BATMAN REGRESSA: Já não é recente esta aventura negra de Tim Burton em que Michael Keaton era o homem-morcego e Michelle Pfeiffer a saudosa Catwoman. Porém, o responsável pelo salutar tom gélido do filme era Danny DeVito, o estranho vilão chamado justamente Pinguim.
- MADAGÁSCAR: O filme promete mais do que cumpre e, no meio desta saga de personagens de um Zoo em desespero com o habitat, quem sobressai é o grupo de pinguins que está sempre pronto para a acção. Na versão portuguesa, foram os Gato Fedorento que lhes deram voz. Boa escolha!
- HAPPY FEET: Novo regresso ao universo dos pinguins, em jeito de comédia musical. Tudo porque um pinguim, que não sabe cantar, aprende a seduzir através de um contagioso jogo de sapateado. O filme destronou «Carros» e levou o Óscar de Melhor Filme de Animação para casa.
- A MARCHA DOS PINGUINS: Belo documentário transformado em peça de ficção poética dado os diálogos inseridos para ilustrar o ciclo de vida da espécie do pinguim-imperador. O resultado final é tão enternecedor quanto inesquecível. Óscar de Melhor Documentário.
24 de agosto de 2007
QUIZ: O que têm em comum estes filmes?



Solução do QUIZ anterior: nos três filmes, cantores pop/rock têm uma pequena participação.
1) PLENTY - UMA HISTÓRIA DE MULHER com Sting
2) O TERCEIRO PASSO com David Bowie
3) NOIVA PROCURA-SE com Mariah Carey
Os extremos tocam-se no cinema francês

Na apresentação à imprensa francesa de SINAIS VERMELHOS, em 2004, houve quem lhe tenha feito a pergunta: afinal, como é que escolhe os seus filmes? Conhecido por evitar rótulos e tentar criar um equilíbrio na gestão dramática sem se afastar das faixas mais largas de público, Cédric Kahn foi sucinto na resposta: «Faço filmes para saber por que razão os faço.» O conceito, embora lacónico, é entendido melhor para quem vê de rajada as suas duas melhores obras que a Atalanta Filmes decidiu compilar num só DVD. O já referido «Sinais Vermelhos» e «O Tédio» (este último produzido por Paulo Branco) são antagónicos nas histórias que apresentam mas próximos no modo como filmam personagens em situações extremas e como deixam perceber que, acima de tudo, é o pulsar emocional que move esta promessa do novo cinema francês. Não só porque aglutina o virtuosismo da mais autoral obra europeia, como consegue criar um efeito viciante e sensual nas imagens que agencia com perícia (reflexo dos seus primeiros passos na montagem televisiva). Nem sempre muito razoáveis, mas sempre justificáveis. Algo que fortalece a ideia para um cinema que não tem outro objectivo além de ser testemunhado com intensidade. Em «Sinais Vermelhos», é a tradição dos policiais de Claude Chabrol e a envolvência clássica do suspense de Alfred Hitchcock que, imediatamente, vêm à memória assim que se assiste às primeiras coordenadas da acção: Antoine (um excelente Jean-Pierre Darroussin) e Helène (Carole Bouquet) decidem, numa noite de Verão, ir buscar os filhos à colónia de férias. O trânsito obriga a seguir pela estrada nacional e, à medida que Antoine se deixa dominar pelo álcool nas paragens que vai fazendo, a sua vida ganha tanto em expiação de comportamentos mal resolvidos quanto em complicações. Helène acaba por abandonar o carro e seguir viagem sozinha, só que a notícia de que um criminoso anda em fuga na região vem adensar uma estranha jornada nocturna, filmada em tempo real e com poucas rupturas cronológicas. Com «Sinais Vermelhos», Cédric Kahn testa as convenções do thriller e mascara-o de road movie intenso, com direito a um twist quando a acção nem sequer precisava dele para ser igualmente poderosa. Já com «O Tédio», a similitude nas deambulações do protagonista são um dos poucos pontos de contacto com a obra anterior, dado que o dilema de Martin (Charles Berling), professor de Filosofia que anda à procura de um sentido para a vida, se acentua assim que decide seguir o rasto de um misterioso pintor de nus femininos. Após a morte súbita deste, Martin envolve-se com a sua musa, Cecilia (a estreante Sophie Guillemin), uma jovem de apenas 17 anos que o transporta para uma rotina de puro desfrute carnal. Entre a pureza e a indiferença, ela torna-se uma obsessão que o leva a questionar as suas teorias afectivas. Brusco, «O Tédio» é a espaços vazio, mas consegue reforçar em cada cena as suas motivações dramáticas. Acima de tudo, é mais uma experiência-teste do cineasta. Como realizador de contrastes, Cédric Kahn tem, por isso, lutado contra ideias pré-concebidas até na elaboração da sua carreira – ao ponto da sua última obra (também já editada em DVD) ser a de um conto infantil delicodoce, «O Avião», em que um jovem crê que o seu brinquedo preferido contém a alma do pai falecido num inesperado acidente.
22 de agosto de 2007
NA SALA ESCURA: O monstro chegou à cidade


De Bong Joon-Ho (2006)
* * * *
Depois de uma passagem marcante pelo Fantasporto (recebeu prémio e tudo), este enorme sucesso da Coreia do Sul ganhou um passo firme nas salas de cinema nacionais. E ainda bem: a história é voraz e enérgica, a criatura é filmada com convicção e ataca em óptimas sequências de acção, a família desmembrada é deliciosamente afoita e... o final não vai ser o esperado. Ao condensar todas as emoções em quase duas horas, o filme é uma imensa montanha-russa, algo lacónica mas bastante funcional. Será que um filme de monstros pode ser um dos filmes do ano? Pode e THE HOST - A CRIATURA é-o certamente. Hollywood está atenta e, tão devoradora quanto a besta retratada, já comprou os direitos para realizar uma sequela. A surpresa, esssa, não será certamente a mesma. Obrigatório ver!
20 de agosto de 2007
O QUE AÍ VEM... Sweeney Todd

Se há dupla que tem funcionado no cinema comercial é a que se criou entre Tim Burton e Johnny Depp. Cada vez que cineasta e actor se voltam a reunir uma promessa fica no ar: filme negro, quase gótico e... profundamente irónico. Logo depois da reconciliação de Burton com o cinema familiar em «Charlie e a Fábrica dos Chocolates», vamos ter de esperar ainda uns bons meses para vermos SWEENEY TODD, o musical macabro de Stephen Sondheim que parte do serial killer Benjamin Barker, já adaptado anteriormente para cinema e televisão. Porém, a visão curiosa de Tim Burton (alguém duvida de que ele é dos mais geniais realizadores contemporâneos?) será como nova e as peripécias do barbeiro de ímpetos nefastos tem tudo para triunfar a nível artístico. Pistas? As presenças de Helena Bonham Carter, Sasha Baron Cohen («Borat») e Alan Rickman no elenco e o rigor plástico do costume (a imagem de cima não parece retirada da animação «Noiva Cadáver»?). Agora é só esperar até 2008...
19 de agosto de 2007
OS MEUS POSTERS: Belleville Rendez-Vous

16 de agosto de 2007
Elogio do Serviço Público

14 de agosto de 2007
QUIZ: O que têm em comum estes filmes?



Solução do QUIZ anterior: os protagonistas dos três filmes chamam-se John.
1) John Smith (Brad Pitt) em MR. E MRS. SMITH
2) John S. Bottombly (Henry Fonda) em O ESTRANGULADOR DE BOSTON
3) John Smith (Bruce Willis) em O ÚLTIMO A CAIR
NA SALA ESCURA: Quem dobrou os Simpsons?

Quem ousou fazer uma dobragem da primeira longa-metragem dos Simpsons? Desculpem-me entrar logo assim a matar, mas é que fiquei estarrecido quando vi Homer Simpson a falar em português no trailer deste filme que... não é para crianças. Repito: Não é para crianças!! Quem ainda hoje confunde a animação de Matt Groening com os filmes animados da Pixar e afins é porque nunca perdeu mais do que cinco minutos a ver um episódio de uma das mais importantes séries animadas de todos os tempos. Ela que até já fez 18 anos de exibição!! As crianças que vão ao engano devem ignorar muita coisa, mas se há algo que define Springfield e os seus idiossincráticos habitantes é que eles são politicamente incorrectos. É por isso que se vê no filme Bart a embebedar-se, Homer a fazer uma alusão à masturbação ou haver algumas referências a armas de destruição maciça. As piadas fazem sentido no cômputo geral do filme, mas ver crianças na plateia a rirem-se sem perceberem 80% do que se lhes passa à frente no ecrã revolta. Fora isso, o filme dirigido por David Silverman é um bálsamo, um último esforço para revitalizar a série e actualizá-la, mostrar o que vale junto do público. O que é certo é que a animação (tradicional, sim, ou não fosse essa uma imagem forte da saga) é um dos maiores sucessos do Verão e não desvirtua nem um pouco o sentido original da série televisiva. Os Simpsons é mesmo aquele divertimento que nos acompanha há anos e anos e que não queremos que acabe nunca. Pelo que, dado o sucesso artístico e de bilheteira deste filme, só resta uma pergunta: no meio de tanta sequela desinteressante, para quando a continuação dos Simpsons no grande ecrã?

De David Silverman (2007)
* * * *
Já não era sem tempo. Se este filme tem um defeito é por que é que nunca tinha sido feito antes. Senão vejamos: a história da cidade de Springfield à beira do colapso ambiental é arrojada, as personagens não se descolam do que conhecemos na série, o filme homenageia os trejeitos de todas elas (só é pena não ter explorado mais o cinismo de Mr. Burns...), as piadas sucedem-se a um ritmo e com uma relevância difícil de encontrar no grande ecrã e... o tempo passa a correr. Com tudo no sítio certo e uma trama semi-apocalíptica (não é nesse clima que vivemos hoje em dia, assim que se abre a página de um jornal?), o filme é já um marco e, certamente, um dos filmes de 2007. Matt Groening sabe o que faz. Ou não estivesse a sua série há 18 anos com exibição ininterrupta.
12 de agosto de 2007
O MAIOR PECADO DE... Wim Wenders


OS MEUS POSTERS: Paris, Texas

11 de agosto de 2007
Ganhar asas num trapézio

A imagem é do clássico de Wim Wenders AS ASAS DO DESEJO, mas não é sobre este maravilhoso filme que quero centrar o meu texto. Ou melhor, parto dele para chegar a uma outra experiência, sentida na pele há dois dias. Decidi ir ver o espectáculo de circo aéreo OLA KALA, do grupo francês Les Arts Sauts, em exibição numa tenda arredondada gigante, estrategicamente localizada no Centro Cultural de Belém. Se bem se recordam, no crepuscular filme de Wenders, um anjo desejava ser humano e, por entre simples reflexões sobre o prazer de ser humano, deixa-se deslumbrar por uma trapezista de sorriso plácido e cabelos encaracolados. No fundo, ele é um ser transcendente, ela é o elo realista da história. Pois bem: no espectáculo de novo circo a que assisti, são os trapezistas que parecem anjos, lá no alto, por entre uma bruma cénica, que levitam entre acrobacias mais intensas e místicas do que os banais números dos espectáculos circenses de Natal. O grande mérito de OLA KALA é fazer-nos acreditar de novo no poder ilusório, testar convenções espacio-temporais e assumir a extrema beleza que é testar as leis da gravidade como se fosse a coisa mais singela do mundo. Depois há a música, possante e incisiva, onde predominam as cordas e as ambiências rítmicas (neste espectáculo, até a banda levita... literalmente!), que ilustra e aprofunda os vários números que se sucedem sem pressa. Sem cair no niilismo sensível dos shows do grupo De La Guarda, este é um momento de novo circo (essencialmente, pensado) que incide sobre a estética do movimento aéreo, com diversas acrobacias relacionadas com o voo e com a queda... a 12 metros do chão. A produção do OLA KALA descreve-o na perfeição: «Os corpos substituem as palavras e formam uma linguagem própria que tem o trapézio como suporte.» Sim, aqui não é possível falar. O corpo deixa passar todas as emoções, dita o ritmo e gere um momento de suspensão da rotina. É também por este silêncio que me lembrei de AS ASAS DO DESEJO. Dos instantes de paixão entre o protagonista e a bela trapezista, sendo que ele a visitava diariamente ao pequeno circo onde actuava, deixando-se comover pela sua vulnerabilidade. E isso bastava.
PS - Apesar do espectáculo valer a pena, deixo um aviso: paguem os bilhetes com dinheiro se chegarem depois das 20h00. É que a bilheteira oficial fecha, todo o CCB fecha e... não há Multibanco ali nas redondezas (dá para acreditar!!!!????). Resultado: andar a passo apressado até aos Pastéis de Belém (!!) para levantar dinheiro e andar tudo de novo até ao recinto. Às vezes, parece que vivemos na província. Então quando se fala de cultura...
O QUE AÍ VEM... Indiana Jones IV

A imagem foi tirada no dia 21 de Junho e é a prova de que vai mesmo haver um novo capítulo da saga Indiana Jones. Há quem defenda que a trilogia bastava, mas Hollywood está mais atenta às sequelas e não poderia perder a oportunidade de actualizar o maior herói do cinema de aventuras das últimas décadas (não, Jack Sparrow, não chegaste lá...). Com rugas no rosto, ar cansado, Harrison Ford volta a vestir a pele do arquéologo e a encontrar-se com o par romântico do primeiro filme: a doce Karen Allen. De resto, que se sabe mais? Muito pouco. Apenas que será novamente dirigido por Spielberg, que chega aos cinemas para o ano e que a revelação Shia LaBeouf (o impetuoso protagonista de «Transformers» e «Paranóia») fará de seu filho - e, certamente, vai assegurar a continuação da saga no futuro, quando o Indiana Jones original sofrer da próstata e do reumático... Mais nomes do elenco (muito coeso por sinal)? Cate Blanchett, Jim Broadbent e John Hurt. A maior ausência é mesmo a de Sean Connery, como pai de Indy. Porquê? Porque o actor disse estar muito feliz a gozar a sua reforma. Resta saber se a aura de aventura se vai manter e se o público do século XXI ainda não esqueceu a personagem do chapéu e chicote.
QUIZ: O que têm em comum estes filmes?



Solução do QUIZ anterior: As três actrizes venceram um Razzie de Pior Actriz.
1. SHARON STONE por O Especialista
2. DEMI MOORE por G.I. Jane
3. LIZA MINELLI por Arthur 2 - On the Rocks
10 de agosto de 2007
QUIZ: O que têm em comum estes filmes?



Solução do QUIZ anterior: Os três filmes contam com uma minúscula participação de Madonna.
1) FUMO AZUL
2) SOMBRAS E NEVOEIRO
3) 007 MORRE NOUTRO DIA
CINEFILIA: As cinco promessas de Agosto





- JYNDABYNE: Boa promessa do novo cinema americano independente, o filme é dirigido por Ray Lawrence, que nos ofereceu a supresa chamada «Lantana», já há uns anos. Aqui, o estilo intimista e assombroso prossegue, quando três amigos descobrem um corpo a flutuar no rio. Já estrou.
- O SABOR DA MELANCIA: Quem viu «Adeus, Dragon Inn» sabe o que esperar sobre este filme do realizador chinês Tian Bian Yi: tudo! Ao que parece, trata-se de uma singela história de amor e uma fábula que funde pop, sexo e melancias sobre uma jovem que descobre que o seu vizinho é actor de filmes para adultos.
- SICKO: Alguém ainda tem paciência para aturar os projectos panfletários de Michael Moore? Apesar das devidas distâncias eu tenho e é com curiosidade e muitos pés atrás que se aguarda a sua última denúncia (que até gerou polémica devido a uma passagem de Moore por Cuba), desta vez ao sistema de saúde norte-americano.
- RATATUI: Última animação da Pixar sobre um rato com dotes de culinária. Dizem que é um bom regresso ao humor para todas as idades, embora tenha decaído um pouco nas bilheteiras norte-americanas. A culpa? «Transformers», «Harry Potter V» e «Shrek 3».
- MUITO BEM, OBRIGADO: Insólito projecto francês, já chegou às salas nacionais. De contornos «kafkianos» assumidos, o filme narra uma espiral de acontecimentos absurdos depois de um homem se meter em problemas com a polícia. Soa bem, não é?
9 de agosto de 2007
Terror estilizado ou com estilo?

4 de agosto de 2007
OS MEUS POSTERS: Jackie Brown

NA SALA ESCURA: Tarantino parte a loiça

Depois de ter derramado sangue a rodos, aproveitando pelo caminho para homenagear os filmes de samurais, o western ou a acção desregrada, eis que Quentin Tarantino volta a hesitar em trazer novo cinema dramaticamente responsável e cede à perversão, à homenagem a géneros esquecidos e desdenhados, à coolness. Na verdade, o realizador de «Cães Danados» continua a não querer ser levado a sério, ou melhor quer ser levado a sério explorando temas marginais e resgatando-os do esquecimento. Se a homenagem às sessões de cinema grindhouse é uma boa ideia, por outro lado fica a sensação que Tarantino é mesmo o espírito cinéfilo voraz e inconsequente que não consegue dar um passo em frente. Sou da opinião que o mais interessante e ousado realizador da sua geração se encontra num impasse: como criar uma obra genuinamente sua sem perder o espírito transgressor? Como tal, e perante a ausência de resposta, o realizador diverte-se a desmontar chavões de subgéneros relegando para depois (nunca?) uma investida mesmo séria num território verdadeiramente original, só seu. E isso nota-se neste novo À PROVA DE MORTE: o filme funciona muito bem para manter a mística do cineasta revisitador e desbragado, mas não avança um milímetro numa mudança, numa jogada mais arriscada dentro dos contornos da sua carreira de 15 anos. É diversão negra, novamente com conversas a oscilar entre o kitsch e a perversão deliciosa, sem esquecer as referências a marcas e acontecimentos que remetem, por exemplo, para o diálogo inicial de «Cães Danados» sobre Madonna ou o sentido das gorjetas. Sem querer ser um road movie, acaba por sê-lo, a lembrar a obra de estreia de Steven Spielberg («Duel») ou, levemente, um outro filme de Kurt Russell, embora este mais sério e realista, «Avaria no Asfalto». O que fica depois de À PROVA DE MORTE? Uma lembrança de que uma boa história nas mãos de Tarantino pode transformar-se em outra coisa qualquer e nunca se sabe que desenlace a história vai ser... Nada é esquemático, apesar do filme se reger no seu todo pelo estilo que quer convocar. E isso nota-se num dos seus pontos mais inventivos: as imperfeições intencionais da imagem, os planos sobrepostos, o grão na fita, o corte abrupto entre os planos. Como bom filme que respeita a aura «tarantinesca», traz para a colecção de personagens bizarras mas inesquecíveis - onde já estavam A Noiva, Mr. White ou Mr. Pink, Vincent Vega, entre outros - o Stuntman Mike, excelente reabilitação artística de Kurt Russell (que insiste em acumular obras de culto no currículo, muitas das quais por «culpa» de John Carpenter). Embora caloroso e assumidamente «série B», o filme só falha por seguir demasiado à risca aquilo que se espera de uma obra de Quentin Tarantino. Isso pode ser uma enorme qualidade, mas para um realizador tão ousado, não faltará um bocadinho de amadurecimento? É assim tão difícil escapar aos vícios do estilo de homenagem? O próprio Tarantino não se deve preocupar muito com a resposta.

De Quentin Tarantino (2007)
* * * *
Enquanto se aguarda com expectativa a segunda parte do projecto Grindhouse (pela mão do «amigo» Robert Rodríguez), Tarantino chegou primeiro e partiu a loiça toda. O seu filme quer prestar homenagem aos road movies marginais e convoca uma personagem bizarra que se assume como vilão para uma história que tem pouco para contar, além de explorar as suas personagens femininas, com diálogos dengosos, que se vão tornar em vítimas perfeitas nas garras de um vilão que é um imenso cromo. Muito cool e assumidamente ligeiro, o filme convence pela sua aura retro, pela banda sonora novamente espantosa, pelas inúmeras piscadelas de olho à cultura pop dos últimos anos e por um cinema de acção desregrado e inconsequente. Tarantino, quando é que cresces? No caminho, continuamos a ser «putos reguilas» contigo...
3 de agosto de 2007
QUIZ: O que têm em comum estes filmes?



Solução do QUIZ anterior: Os três filmes contam com banda sonora de Bernard Herrman (o clássico dos clássicos em momentos de tensão e suspense).
1) TAXI DRIVER
2) MARNIE
3)FAHRENHEIT 451
O QUE AÍ VEM... Nue Proprieté

1 de agosto de 2007
Antonioni: morreu o cineasta da angústia

Deve ter sido a semana mais negra do cinema na última década e... ainda vamos só a caminho da quarta-feira. Hoje, acordei ainda mais pobre do que ontem com a notícia da morte de Michelangelo Antonioni. É certo que o cineasta de BLOW UP já tinha 94 anos, padecia de doença e estava inactivo. Mas era outra poderosa referência que há muito cristalizara nas minhas noções cinéfilas. Espero que Woody Allen, Clint Eastwood, Martin Scorsese, Pedro Almodóvar, Wong Kar-Wai e Kusturica estejam de boa saúde... É que para referências já bastam as perdas destes dois últimos dias. E que dizer de Antonioni? Que era um instigador de novidade visual, o cineasta da angústia, o arquitecto de uma arrojada temporalidade? Isso já se sabe. Que deixa uma obra onde sobressaem títulos como BLOW UP, ZABRISKIE POINT ou PROFISSÃO: REPÓRTER (ainda há uns meses reposta em sala de cinema), também. Então o que falta? Mais uma absoluta vénia a esta personificada instituição italiana, nome em letras maiúsculas de um certo tipo de cinema de autor, lento e anguloso, que nos ajuda a perceber que o cinema pode ser mais do que a linearidade de clichés e que é muito mais do que razão. Sim, o que o cinema de Antonioni nos mostra é o ímpeto do instinto. E o cinema está mais pobre...