19 de julho de 2006

Seis minutos de Tim Burton

Antes da estreia em longas-metragens, muitos dos cineastas conceituados de hoje deram os primeiros passos em filmes de curta-duração onde introduziram estilos, criaram experiências e testaram fórmulas para mais tarde, com outros meios e maturidade, voltarem a elas e desenvolverem-nas de uma forma mais ambiciosa. Foi recentemente lançado em DVD - sem, porém, ter chegado ainda ao mercado nacional - uma compilação com 16 curtas-metragens de realizadores como Spike Lee, Alexander Payne, George Lucas e... Tim Burton. Esta pequena relíquia chamada Cinema 16 chama a atenção para os pontos de partida artísticos de gente que hoje tem o cinema mediático a seus pés. Foi por essa razão que me lembrei da obra de estreia de Tim Burton (incluído no referido DVD), de 1982, e que também pode ser encontrada nos extras de algumas edições de O Estranho Mundo de Jack - obra com a qual possui algumas similitudes, não só visuais como dramáticas. A pequena pérola Vincent relata, em apenas seis minutos, a obsessão de uma criança de sete anos pelo universo obscuro de Vincent Price e Edgar Allan Poe. Com traços autobiográficos, Vincent delicia pelo tom poético e obscuro, com apurado sentido na animação "stop motion" e revela uma profunda coerência que o tem acompanhado ao longo da sua já vasta obra pelo território movediço do cinema fantástico. Basta pensar nas motivações negras de Noiva Cadáver.

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Apesar de, por cá, estar apenas acessível na edição especial do DVD de O Estranho Mundo de Jack - o que parece ser a combinação perfeita -, Vincent é tão ou mais importante do que a obra que ajuda a complementar em formato digital. É uma pequena delícia que revela o engenho de Tim Burton em recorrer a referências mais negras, o gosto pela fábula e por uma certa nostalgia do terror "low cost" - não é por acaso que já fez um "biopic" sobre Ed Wood. Em Vincent, o lado de menino que vive perdido em pensamentos impróprios para a idade ganha outra dimensão com os bonecos de traço apurado (alguém duvida que os cabelos em desalinho da personagem principal são uma alusão ao próprio visual de Burton?) e o belíssimo texto narrado pelo próprio Vincent Price, em que a voz dúplice se conjuga na perfeição com a bipolaridade da criança que sonha com a morte, fantasmas e torturas inesperadas. Exemplos da beleza destes versos? "Vincent Malloy is seven years old, / He's always polite and does what he's told. / For a boy his age he's considerate and nice, / But he wants to be just like Vincent Price. / He doesn't mind living with his sister, dog and cat, / Though he'd rather share a home with spiders and bats... " Já se sente o arrepio na pele? * * * * *

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