Pecado do Dia: Soberba
O serão de hoje inscreve-se sob o signo da dúvida e do desespero que os segredos podem gerar no convívio conjugal. Suspeita, de 1941, não é dos títulos mais óbvios da carreira de Hitchcock mas foi um dos primeiros sinais do requinte e da consciência plena do seu estilo que o mestre imprimiu por terras norte-americanas. Cada cena tem já a sua sombra (e há até o habitual "cameo"...), cada movimento de câmara revela já uma perfeita noção dos contornos da envolvência narrativa e psicológica e... depois há os efeitos de "suspense", aqueles pequenos truques cinematográficos para realçar até que ponto Lina (Joan Fontaine, vencedora do Óscar de Melhor Actriz por esta prestação dúplice) deve suspeitar das intenções do marido (o eterno galã de comportamentos ousados, Cary Grant). Suspeita deu que falar devido à obrigação de Hitchcock em alterar o final com o medo do estúdio RKO de que o público se afastasse do filme se este fosse demasiado cruel. É pena... porque é precisamente o fim o mais morno de uma história que tem ainda uma curiosa alusão a Agatha Christie. Cenas memoráveis? A caminhada de Cary Grant com um copo de leite fresco nas mãos, que sintetiza a ambiguidade que Hitchcock conseguia criar com um simples (afinal, bastante complexo...) jogo cénico. Hoje, às 22.30 no Museu do Cinema ou em DVD numa edição da Costa do Castelo. * * * *
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