14 de julho de 2006

Uma alternativa à "geração pixel"

Quando se encontram em exibição simultânea nas salas de cinema duas grandes produções de animação digital, ou seja, produtos de luxo das concorrentes Pixar (com Carros) e Dreamworks (com Pular a Cerca), apetece lembrar que, apesar de estarem em vias de extinção, os desenhos a lápis e papel, que ganham movimento graças à sobreposição compulsiva, ainda dão alguns frutos. São cada vez mais pequenos objectos artísticos, que representam pequenas indústrias sem os meios técnicos dos grandes estúdios americanos. Mas, aos poucos, a animação tradicional parece querer constituir uma alternativa sólida ao "pixel mainstream", criando narrativas simples que deixam espaço para que figuras de traço expressivo deslizem contra os padrões, inclusivamente daqueles que vigoravam nos filmes mais comerciais, quando o digital ainda se encontrava numa fase de desenvolvimento precária. Não se pretende aqui fazer a apologia de que o "pixel" corrompeu a animação - até porque renovou e mediatizou um estilo clássico, abrindo portas para uma nova dimensão criativa, de que são bons exemplos Shrek, Monstros e Companhia, Uma Vida de Insecto ou À Procura de Nemo. Mas apenas não negligenciar novas propostas (outro dos casos recentes que deu que falar foi O Castelo Andante), novas concepções artísticas que têm surgido aqui e ali... Belleville Rendez-Vous estreou-se há três anos e (re)colocou a França no panorama da animação de prestígio. E faz todo o sentido pelos seus traços marcados, roçando o classicismo das suas imagens amareladas com o prodígio narrativo (e onírico) dos tempos modernos.

Pecado do Dia: Gula

É um doce. De ver e chorar por mais... Belleville Rendez-Vous, de Sylvain Chomet, trouxe em 2003 uma nova dinâmica (e tom revivalista) para o universo da animação, com as deambulações da Mme. Souza (uma simpática portuguesa de buço, manca e minúscula de tamanho) na procura pelo neto ciclista, vítima de uma deliciosa conspiração. Onírica e desconexa, a história deste filme, que chegou a ser nomeado para o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, distorceu de tal forma as suas figuras (atente-se na visão da América a meio do filme) que só lhes confere mais personalidade. Nesta jornada sem regras muito realistas, a criatividade é ainda insuflada por uma banda sonora memorável, a cargo de Benoît Charest, que lembra canções de cabaré, com a energia necessária para suportarem toda a acção (muito parca em diálogo). Em suma, todos os condimentos necessários, para uma dose de animação que promete deixar qualquer espectador rejuvenescido. * * * *

Sem comentários: