11 de outubro de 2007
NA SALA ESCURA: Duas faces do terrorismo
IRA. «Por que é que sempre que alguém começa a falar de civilização, ouço o som de armas?» Fay Grim (PARKER POSEY)
São os dois filmes de origem norte-americana e reflectem à sua maneira as incongruências de um mundo menos seguro desde 11 de Setembro de 2001. Fariam sentido antes dessa data? Talvez, mas a sua pertinência e acutilância ficaria pela metade.
Fora isso, FAY GRIM e ULTIMATO pouco ou nada têm a ver. São de universos distintos, porque o primeiro é um filme de autor assumidamente marginal, feito com todos os tostões contados, enquanto o segundo é a sequela de uma sequela, com efeitos especiais de ponta e uma estrela que dizem ser a mais rentável do momento.
Pode parecer que estou a desdenhar ULTIMATO, nada disso. Até porque o resultado é superior a FAY GRIM, saudoso regresso às lides de Hal Hartley. Na verdade, o desfecho das peripécias de Jason Bourne é dos mais dinâmicos e bem trabalhados «blockbusters» dos últimos anos e só o seu excessivo efeito vertiginoso (e ilustrado por planos que se sobrepõem com uma duração inferior a dois segundos) pode cansar a pulsação do espectador.
Fora isso, cria um (anti)herói possível para os tempos que correm, onde a tecnologia pode ser ameaça e as autoridades tendem a exacerbar o seu poder controlador. E, no fundo, onde ninguém é inocente.
Por outro lado, FAY GRIM é uma sátira assumida que, no fundo, tem ponte de ligação a «Henry Fool», o anterior trabalho de Hartley. É certo que se perde em demasiadas ambiguidades narrativas e na vontade de querer disparar em todas as direcções do que na crítica ao terrorismo diz respeito. Mas não deixa de ser um delicioso retrato de espionagem, a lembrar as obras ardilosas de John Le Carré, que não se embaraça perante a falta de meios técnicos, e que conta com uma irresistível Parker Posey, que começa o filme como mãe desesperada e termina a fintar terroristas com a perícia das grandes espias.
Hartley sabe conduzir a história e tenta mostrar que o mundo de hoje está demasiado atento. Haverá ainda espaço para a espontaneidade? Jason Bourne parece também estar a precisar dela...
FAY GRIM
De Hal Hartley (2006)
* * *
Já há muito que se especulava sobre o último trabalho de Hal Hartley. Ele chegou com algum atraso às salas nacionais, mas não desiludiu. Trata-se de um engenhoso caso de espionagem que segue as peripécias de uma mulher (excelente Parker Posey) que tenta juntar os estilhaços deixados pela memória do marido desaparecido. O feito vai levá-la a Paris e a Istanbul, numa história com tantas reviravoltas quanto uma montanha-russa à séria. O realizador é bom gestor de planos e emoções, mas a história criada em estilo de farsa nem sempre se leva demasiado a sério. Um elogio que é também uma crítica.
ULTIMATO
De Paul Greengrass (2007)
* * * *
A saga de Jason Bourne fecha-se com a classe das grandes trilogias. Matt Damon fez bem em dizer que as aventuras do homem à procura da memória chegaram ao fim. E que fim! Jogo de acção em alta velocidade, que pode cansar o espectador, certamente rendido perante a eficácia das cenas de acção e a história bem explicada pela câmara frenética de Paul Greengrass. Já há muito que um filme de acção não preenchia tanto as medidas... Era bom, mas acabou-se.
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