5 de outubro de 2007

NA SALA ESCURA: Um futuro previsível








PREGUIÇA.
«-Consegues ver coisas antes delas realmente acontecerem? -Só no meu futuro. Contigo, não.»

Que o universo de Philip F. Dick é rico em teorias futuristas, abordando também as repercussões morais de uma série de hipótseses, não há dúvida.

Que as suas histórias são quase sempre excelentes filmes, também não. Mas há excepções e, infelizmente, NEXT - SEM ALTERNATIVA é um deles.


Assim que a história se desenrola, percebemos que as premissas são claramente «Dickianas», até porque o protagonista tem a capacidade de prever o futuro dois minutos antes de ele suceder. Interessante, mas em várias cenas refutável... Depois, percebemos que Lee Tamahori tem a sensibilidade de um elefante obeso numa loja de porcelanas chinesas para dirigir tudo com as doses mínimas de originalidade.

Apesar de bater tudo certinho, de ter Julianne Moore empenhada a fazer de agente policial irredutível, apesar dos efeitos especiais, apesar de dinâmico, NEXT - SEM ALTERNATIVA é formatado pela estrutura das séries televisivas que hoje abundam as televisões, não tem uma ideia gráfica verdadeiramente surpreendente e depois... bem, depois há Nicolas Cage a ser uma sombra de si próprio, com um corte de cabelo ridículo a não ajudar.

Pressente-se que há aqui muitas ideias desperdiçadas pelo rolo compressor do dinheiro. O filme é feito inteiramente a pensar na lógica industrial, o que corrompe o que quer que seja que escape a essa formatação. Valha-nos um ou outro momento de distorção temporal, a sequência de acção passada no bosque, o teste das perversões cronológicas a que Chris, o protagonista, é várias vezes sujeito.

No entanto, brincar com o tempo não chega. Ainda para mais se, na estrutura do filme, nenhum segundo sai fora do sítio. Resultado final? O inesperado pode ser previsível.

NEXT - SEM ALTERNATIVA
De Lee Tamahori (2007)
* *
Foi um dos grandes fracassos de bilheteira deste Verão (custou mais de 70 milhões de dólares, rendeu pouco mais de 15 milhões) e percebe-se porquê: Lee Tamahori não sabe aproveitar o património literário que tem em mãos e constrói um filme tão certinho, tão certinho, que raramente surpreende. Depois temos Nicolas Cage a dar mais um passo em falso, numa interpretação tão forçada e sem chama que constrange. Resta-nos uma Julianne Moore empenhada e uma Jessica Biel interessante para colmatar as falhas. O que não chega neste jogo de coordenadas temporais: o futuro está logo ali, mas há que saber agarrá-lo. Esta foi uma enorme oportunidade desperdiçada.

Sem comentários: