30 de outubro de 2007

OS SETE PECADOS DE... Outubro 2007








PREGUIÇA.
É bom ver que o cinema português está aí outra vez em força, mas que os temas, os actores, os valores de produção, os tiques e os trejeitos são sempre os mesmos. JULGAMENTO é mais um retrato estereotipado da Guerra Colonial, enquanto CORRUPÇÃO vai evitar o visionamento de imprensa antes da estreia e João Botelho já afirmou que não vai assinar a direcção devido a imposições dos produtores. Parece que o cinema nacional quer chegar ao grande público, mas da maneira mais óbvia e telenovelesca. Não é por acaso que as televisões, atentas, estão a ajudar o financiamento destes projectos. Valha-nos isso! A boa surpresa do mês é mesmo a simplicidade afectiva de O CAPACETE DOURADO.

SOBERBA. A mudança dos canais Lusomundo para a marca desinspirada TVCINE a partir de 1 de Novembro tem bons e maus argumentos. A razão para a mudança deve-se à vontade de estrear sempre um filme em horário nobre distinto (21h00, 21h30, 22h00, 22h30). Muito bem, sim senhor, mas daí até tornarem quatro canais sem uma linha temática que os distinga torna-os numa oferta excessiva e desenquadrada. Aparentemente... resultado? Um filme pode aparecer em qualquer um dos canais, a qualquer hora, sem outro critério digno de registo. Depois, esta vontade «de agradar a toda a gente sem agradar verdadeiramente a ninguém» certamente que fará reduzir o número de exibições dos filmes clássicos. Algo que já se notara na recente renovação da grelha do Canal Hollywood. Por onde anda o cinema de John Ford, Ingmar Bergman, Eisenstein, Truffaut, Fellini ou Visconti? Nos escaparates da Fnac ou, quanto muito, num serão discreto da RTP2. Pelo sim pelo não, vou continuar a apostar no DVD.

GULA. Os esforços gastronómicos de Catherine Zeta-Jones em «Sem Reservas» são um doce e a actriz acerta no alvo na hora de se exibir como «chef» de um restaurante de prestígio em Nova Iorque. Depois, há ainda as divertidas sequências da protagonista desta comédia romântica ao cozinhar para o seu psiquiatra em vez de ficar sentada no divã.

INVEJA. Estou a ler com renovado interesse a compilação de textos de Woody Allen que surgiu com o título «Pura Anarquia». E o que se encontra aqui? A sua escrita compulsiva, cheia de armadilhas de linguagem, diálogos dignos da sua raíz na «stand-up comedy» e uma criatividade sem limites. Exemplos? A história do escritor convidado para criar obras literárias à pressão a partir de argumentos de filmes, ou da «babysitter» que decide escrever um livro a explicar os podres de um casal são de uma frescura humorística sem precendentes. Queremos mais, Woody!!

IRA. O capítulo final de Jason Bourne, em «A Supremacia», é o melhor plano de vingança em alta voltagem que vimos no cinema mainstream nos últimos tempos. Com planos de poucos segundos, agenciados com violência e a perícia de uma obra que se quer ofegante, tornam esta aventura numa perfeita jornada de acção. E a forma abrupta e seca como Matt Damon arruma os inimigos mete James Bond, Jackie Chan ou Van Damme num canto.

AVAREZA. A prova de que «com-poucos-meios-se-pode-ir-longe-do-mês» é mesmo a comédia «Um Azar do Caraças», que revê a comédia romântica colocando a premissa naquilo que costuma ser o final das histórias de amor. Depois, há um punhado de actores bem dispostos, reviravoltas realistas na acção e um grupo de personagens estranhas. Mas não tão estranhas quanto as da vida real.

LUXÚRIA. Em período de (re)descoberta da obra de Bergman em DVD, sublinho o confronto carnal entre o casal protagonista de DA VIDA DAS MARIONETAS. O filme começa com um crime e imagens avermelhadas, para depois se perceber de facto (e já a preto e branco) o que levou a personagem principal a assassinar uma prostituta e a possuí-la de seguida. Já disse que Bergman é exemplar a fazer-se passar por Freud no cinema?

1 comentário:

emot disse...

TVC1, TVC2, TVC3... mudam constantemente de nome nestes canais de cinema (demasiado especifíco). Dá a sensação que é uma acção de marketing, a tentar captar mais clientes dando sempre a sensação que são canais novos. Não passam filmes mais clássicos ou de referência muito provavelmente porque julgam que isso não traz novos clientes...
Enfim. Canais de cinema muito limitados. Tive um mês à experiência e fiquei muito desiludido. Estava à espera de melhor, mais opções.
Realmente a RTP2 acaba ser mais original nas escolhas do que os vários canais de cinema (pagos) da Lusomundo.

Também comprei o Pura Anarquia. Ainda só espreitei....