1 de julho de 2007

A aura negra de Edgar Allan Poe

IRA. «Na ficção-científica, o monstro deve ser sempre maior do que a actriz principal.» ROGER CORMAN
Pois é... o cansaço traiu-me e não cheguei a marcar presença na «premiere» de Roger Corman na Cinemateca. «Mea culpa!» Ainda assim, recordo as impressões que senti ao ver o clássico O FOSSO E O PÊNDULO, que vai passar no ciclo do Museu do Cinema e que está disponível também em DVD. Já se sabe que as obras de suspense se sobrepuseram à veia poética de Edgar Allan Poe. A sua escrita aliava o terror gótico com intrincadas narrativas em que a lógica expressionistas deixava antever consideráveis potencialidades cinematográficas. A transposição para o grande ecrã do universo enigmático de O CORVO ou A MÁSCARA DA MORTE VERMELHA coube a Roger Corman, produtor e realizador que se especializou, nos anos 60, em filmes de baixo orçamento sempre com o mesmo actor em destaque: Vicent Price. Tinha uma expressão cínica, com olhar vítreo e sobrancelhas carregadas, além de uma voz rouca e um ar maquiavélico. Vincent Price é o símbolo por excelência do cinema de terror poético (quase sempre de contornos medievais) e o protagonista do clássico O FOSSO E O PÊNDULO, obra de 1961. A história deste thriller sumptuoso e sinistro, com a acção a decorrer nos diversos espaços de um castelo espanhol, descreve os vários passos de Don Nicholas Medina (Price) em direcção à mais extrema demência. Impressionado com a cave da sua casa real, local recheado de instrumentos de tortura da época da Inquisição, Medina não consegue ultrapassar o trauma da misteriosa morte da amada, Elizabeth (Barbara Steele). Aos poucos, o solitário viúvo começa a pressentir a presença de Elizabeth em todos os cantos do castelo, aspecto que também intriga Francis Bernard (John Kerr), o irmão da mulher «que morreu de medo», que vem para esclarecer o que de facto se passou. Nesta história que ajuda a perceber muito do universo estilístico do contemporâneo Tim Burton (que, curiosamente, convidou o já idoso Vincent Price para uma pequena participação em EDUARDO MÃOS DE TESOURA - na pele do criador da bizarra criatura interpretada por Johnny Depp), a atmosfera que Corman consegue produzir é a do terror lendário, próximo das adaptações de DRÁCULA, de Bram Stoker (clássico que faz 110 anos em 2007).

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