Quem gosta mesmo de cinema não se fica pela sensação vivida no grande ecrã. Compra DVD compulsivamente, colecciona posters, livros, camisolas, porta-chaves e até bases para o rato do computador. Embora não chegue a este extremo, congratulo-me do esforço que um jovem ex-crítico de cinema do jornal Público, Vasco T. Menezes, que conheço, empreendeu: montou a loja Cinecittà para gente apanhada por filmes. Há uns tempos, fiz uma breve reportagem para o extinto suplemento 6ª (do Diário de Notícias) que, muitos meses depois, me apraz recuperar.
Numa parede, Alfred Hitchcock retoma a pose de prestígio com uma gaivota e um corvo nos ombros para nos recordar o medo de OS PÁSSAROS; na outra, Woody Allen revela o seu ar inconformado por debaixo de um chapéu de chuva num pequeno postal a preto-e-branco; ao centro, está uma colecção de posters que recordam James Dean em FÚRIA DE VIVER, Jacques Tati em AS FÉRIAS DO SR. HULOT ou o casal animado do recente êxito de Tim Burton, A NOIVA CADÁVER. Se dúvidas restassem, assim que se entra no número 4 da Avenida Sacadura Cabral (junto à Avenida de Roma), em Lisboa, é a ficção que toma conta do espaço, ou melhor, o cinema revela-se para lá do grande ecrã sob a forma de DVD, postais, livros, porta-chaves, T-shirts e até tapetes para o rato do computador. É este o «argumento» da loja Cinecittà: uma pequena área comercial mas uma grande ideia para os cinéfilos inveterados. «É a loja de cinema que eu gostaria de frequentar, tendo em conta que antes de a abrir não havia nenhuma do género em Lisboa», refere Vasco T. Menezes, ex-crítico de cinema do jornal Público e o grande mentor do espaço que abriu portas em Abril de 2005. Agora, quase um ano depois, a Cinecittà já possui site oficial (www.cine-citta.net), fidelizou um pequeno grupo de clientes, mas ainda se confronta com falta de divulgação e uma área pequena para as ideias de quem a dirige: «Gostava de ter um espaço mais alargado, com uma zona de café e bar que permitisse a conversa e não tornasse a Cinecittà num mero local de compra», acrescenta Vasco T. Menezes. Um olhar rápido pelas prateleiras dos DVD permite concluir que são as edições de luxo, importadas segundo uma lista criteriosa de fornecedores, que predominam e definem o ambiente para quem entra pela primeira vez: a oferta (com preços um pouco mais elevados que o normal devido a custos de importação e a edições raras) passa por obras desconhecidas de realizadores como Wes Anderson (BOTTLE ROCKET) ou Richard Linklater (DAZED AND CONFUSED), clássicos como MEAN STREETS de Martin Scorsese (numa edição com depoimentos do realizador e documentário), filmes de terror, cinematografia oriental e êxitos europeus de Visconti ou Chabrol. «Existem pontos de contacto entre a Cinecittà e outras lojas, mas esta é mais virada para um nicho. Não posso dizer que é uma loja de cinema underground porque tenho aqui coisas conhecidas de todos, mas é pelo menos mais cuidada», sublinha o jovem proprietário, para realçar «que a oferta tem a ver com os meus gostos, mas não é uma loja para o meu umbigo». Há ainda uma secção de compra e venda de DVD e uma livraria um pouco escondida com obras sobre tendências e estilos cinematográficos, listas de prémios ou centradas em ícones como Marilyn Monroe. E é ainda possível adquirir números antigos da revista «Écran». O segredo da Cinecittà é o de «possibilitar novas formas de relacionamento com as componentes gráficas e lúdicas» do cinema. Algo que pode ir de uma obra raríssima do artista Andy Warhol (editada pela distribuidora italiana RareVideo) ou uma camisola com uma estampa dos lábios carnudos que simbolizam THE ROCK HORROR PICTURE SHOW.
2 comentários:
E apraz-te muito bem!
Tenho de lá voltar...
Olá,
Gostaria de lhe fazer uma sigestão, mais concretamente, relativa ao evento lisboa crónica anedótica. desculpe estar a invadir os comentários com este tipo de informação, mas seria possível me enviar um mail para pedroazevedo@transformadores.pt para eu poder lhe enviar a tal informação?
um abraço
Pedro Azevedo
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